sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Uma sensação a cada momento.

A natural ascensão das impressões produzidas por tudo o que é exterior ao espírito - e posterior conversão em ideias ou percepções - actua paralelamente em todos os nossos sentidos. Acima de tudo, todos eles, são catalisadores para uma experiência única em singular, experiência essa que é normalmente subestimada (levando ao seu consequente desaproveitamento). É através deles que realmente se sente e pelos quais somos levados para um conjunto de circunstâncias que espelham a nossa face crua, a nossa mais pura inocência.

Agora, que conseguimos atingir esse estado, partindo de um aglomerado de sensações é-nos dada a possibilidade de dividir o tempo em instantes e, como se tivéssemos o poder de parar o mesmo, podemos em seguida saborear cada quantum de cada vez, calmamente, até que pela soma das partes atingimos um todo e somos brindados com a possibilidade de passar à próxima presença, num processo libertador e causador de deleite, aptos a viciar o sistema.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Sem sentido, com compaixão.

Por mais que tente, não consigo encontrar um rumo, uma orientação, uma forma de compreender as circunstâncias que me levaram a estar nesta vicissitude. É uma fase em que o prazer tem como cônjuge a loucura, enquanto as memórias se tornam irrelevantes, desnecessárias, e num ritmo lento, mas suficientemente grande para causar mossa, se desvanecem para dar lugar a um maior aproveitamento dos fenómenos de especificidade momentânea. Este desaparecimento da nostalgia deve-se a alguma coisa que tem ocupado a minha cabeça, um mistério por desvendar. É algo que me faz rir, mas não devia - a única pista.

Faz-me rir, embora me arranhe de forma dolorosa e me arrepie de forma saborosa, e por esse motivo, não consigo deixar de considerar que, apesar de tudo, até acabo por gostar desta presença que desconheço, que talvez até prefira que se mantenha incógnita - um enigma sem solução - porque tudo isto é um misto de insanidade e caos onde me sinto bem, onde tudo está organizado, num sentido perfeito e minimalista.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

A maturação através de um olhar.

Tenho degustado a minha consciência íntima, algo está diferente. Intervenientes foram redefinidos, o peso do polimorfismo, bem como a tela para a representação do horizonte de uma beleza particular e invulgar, é maior, e tudo isto enquanto me melindro cada vez mais com este subconsciente obscuro. Por outro lado, o meu espírito, quase sempre caracterizado pela adesão absoluta e voluntária aos factos, chegou a ter momentos de pusilanimidade, fraqueza e padecimento de metamorfopsia, um resultado natural deste estado de transfiguração. A génese de toda esta panóplia de diligências internas é provavelmente consequência de uma abstracção inexorável, um casulo de intimidação, dentro do qual o olhar mais profundo e penetrante me colocou a maturar. Agora, resta-me descobrir qual foi o resultado final...

domingo, 23 de maio de 2010

Sentido como contrário de sentir.

Existem épocas aleatórias em que algo leva a crer que nem tudo o que interage connosco - seja de forma activa ou passiva - no âmbito existencial, está completamente consistente (ou certo). Podemos não ter momentaneamente a faculdade de discernir o que é, do que se trata, mas temos essa consciência através de um fenómeno irrevogavelmente nada lógico, o sentimento. A partir deste, nada pode ser provado, verdade seja dita, por mais proposições e argumentos que nos consigamos lembrar, todos os nossos sentimentos num dado instante das nossas vidas são impossíveis de estabelecer em forma de verdade incontestável, são irracionais. É atingido um paradigma, que desde a nossa nascença nos acompanha: se nada podemos provar a partir do sentimento, então nem existe tal coisa, pois a única forma de a demonstrar é sentido, algo que não podemos utilizar e tudo continua na mesma, ou parece continuar, porque ironicamente sinto que não está. De facto, não conseguindo confirmar a veracidade de algo através da nossa consciência intima tudo se transforma...

Vivemos num lugar onde muitos falam de racionalidade, onde se exorta a necessidade de um comportamento mais racional, onde se sente que é isso que nos falta para atingir algo incrível e chegar a um patamar melhor - erros em demasia, erros levados a agir em função dos sentimentos (um fruto de pensar de forma paralela aos mesmos). Eu, ironicamente sinto, que quase todos nunca saberão o que é racionalidade, que quase nada alguma vez fará sentido.

domingo, 16 de maio de 2010

De intersecções para a intercessão.

Na singularidade da ausência momentânea de conteúdo nos caminhos pelos quais a minha faceta endógena vagueia, vi-me no dever de aceder a qualquer tipo de fenómeno de intercessão que despertasse algo fora da área onde normalmente me condenso, uma forma de explorar um paralelismo que poderá ser interessante no porvir. Existem questões que se impõem, factos que se cruzam e horizontes que desabam numa dimensão onde a atenção que os alimenta já não vai ser dada por mim - quando a intersecção dos factos que os construíram nada mais dá que um conjunto vazio. Não vejo interesse em continuar, estou cansado ou sou preguiçoso - talvez ambos, e não me apetece reconstruir vezes sem conta pelo prazer de observar tudo a cair, por agora.

sábado, 10 de abril de 2010

Autómato de circunspecção.

O cessar do estado fechado das percepções que manipulam os sentidos trazem-me uma realidade benevolente, desencadeiam diligências para proceder à verificação deste novo modo de tudo acontecer, mas nada do que aparenta estar presente é verificado de forma assertiva. É um processo realizado vezes sem conta, sempre com a mesma resposta, como se este algoritmo embutido em mim nunca fosse suficientemente alimentado para produzir um fenómeno tautológico, é o momento em que as sensações abrem caminho à liberdade indubitável, e única verdade, do autómato em que estou transformado.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Um olhar ao pretérito recente.

Tudo parecia normal de uma forma, tudo guardava uma beleza particular de outra. Num instante, quando nada minimamente semelhante se esperava, ostracizei-me do resto da sociedade por momentos. Era algo pensado e ponderado, apesar de imprevisto na ocasião, tudo o que era expectável foi largamente superado e muito do que era inesperado passou por mim de uma forma que as palavras não descrevem, e não falo de sentimentos (esses são uma fraqueza da nossa condição), falo de sensações, e que sensações. Como se o coração já não fosse mais necessário, pois o sangue era agora impulsionado até perto da velocidade da luz por entre as minhas veias e artérias através de milhões de turbinas que iam sendo ligadas pela primeira vez, com uma aceleração exponencial, naquele curto espaço de tempo. Não precisava de racionalizar, tudo passou a vir de uma forma natural, tinha chegado ao final do meu horizonte, a paisagem com que sonhava havia sido ultrapassada, esta era a perfeição agradável à vista, a monumental cativação do espírito, a utopia que via a luz do dia. Nunca liguei muito aos princípios pelos quais se formam todos os juízos de valor morais ou estéticos da sociedade (apesar de estar inequivocamente ligado à mesma), mas ali a minha liberdade era total, sempre pensei que antes também o era, mas esta realidade, nem atingível até agora de forma imaginária, abriu (muitas) novas perspectivas, criando um plano perpendicular a tudo o resto. Com isto não quero dizer que vá tentar recuperar o passado, não preciso de mais, não tenho a necessidade de viver duas vezes, e este como tudo o que é demasiado bom, também é demasiado perigoso...